Além da música: quando Gaga vestiu a liberdade
- Eduarda Sodré
- 4 de mai.
- 3 min de leitura

Lady Gaga nunca foi apenas uma cantora, ela é um manifesto ambulante. Desde que surgiu no cenário pop em 2008, ficou claro que sua missão ia muito além das paradas musicais: Gaga entendeu que vestir-se é, também, um ato político, uma extensão de ideias, emoções e provocações. Com isso, construiu um dos acervos visuais mais impactantes da história da cultura pop.
Enquanto muitos artistas usam a moda para se adequar às expectativas do mercado, Gaga foi na contramão. Para ela, cada look era uma performance, um roteiro visual, uma subversão de normas. Ela não usava roupas, ela contava histórias com elas. E, nesse processo, explodiu os limites do que se considerava aceitável, belo ou esperado no entretenimento.

Em 2009, ao receber o prêmio de Artista Revelação no VMA, Gaga surgiu coberta por uma renda vermelha de Alexander McQueen, rosto oculto por uma máscara da mesma textura, como se desafiando a própria ideia de celebridade. O visual, intenso e desconcertante, não apenas quebrou com o glamour tradicional da cerimônia, mas também simbolizava a perda de identidade diante da fama e a fragilidade por trás da persona pública.
No ano seguinte, ela cravou seu nome na história da moda com um dos momentos mais icônicos do século: o infame vestido de carne, usado no MTV Video Music Awards de 2010. Criado por Franc Fernandez e estilizado por seu então diretor criativo Nicola Formichetti, o look foi muito mais do que um choque estético. Era um protesto explícito contra a política “Don’t Ask, Don’t Tell”, que silenciava militares LGBTQIA+ nos Estados Unidos. Gaga usou a polêmica como megafone para causas urgentes, transformando o corpo em palco de resistência.
Seu primeiro Grammy também foi palco de espetáculo. Gaga chegou como se viesse de outro planeta, vestindo uma criação arquitetônica lilás de Armani Privé, cravejada de cristais, com uma silhueta que parecia saída de uma galáxia futurista. A imagem reforçou seu status de visionária e provou que a moda pode ser tão disruptiva quanto a música.
Mas Gaga não se contenta em quebrar padrões estéticos, ela confronta construções sociais. Em 2011, deixou todos boquiabertos ao se apresentar não como Lady Gaga, mas como Jo Calderone, seu alter ego masculino. Vestida com um terno preto, camiseta branca e cabelo engomado para trás, ela borrava as fronteiras entre masculino e feminino, identidade e personagem. Foi um tapa conceitual nas normas de gênero, algo que poucos artistas com seu alcance ousariam fazer.

E os momentos continuam: como esquecer o tapete vermelho do Met Gala de 2019, quando Gaga apresentou uma performance de moda ao vivo, tirando quatro looks diferentes em plena escadaria do evento? Ou seu tributo a David Bowie em 2016, misturando homenagem e autenticidade num desfile glam rock?
Lady Gaga não segue tendências, ela cria rupturas. Em cada aparição pública, reafirma que a moda não é apenas uma questão de estética, mas uma linguagem com poder de provocar, transformar e libertar. Seu legado ultrapassa os palcos e reverbera nas passarelas, nas discussões sobre identidade, liberdade de expressão, corpo e pertencimento. Gaga nos ensinou que moda pode ser armadura e vulnerabilidade ao mesmo tempo, um meio de mostrar força ou denunciar fragilidade. Seus looks nunca foram apenas roupas, foram gritos visuais, performances pensadas com a mesma profundidade de uma letra ou melodia. Ao vestir o absurdo, o inesperado, o irreverente, ela desafiou padrões de beleza, confrontou conservadorismos e abriu espaço para que outros artistas e fãs se sentissem mais livres para existir fora das caixinhas normativas.
Ela transformou o ato de se vestir em arte performática, derrubando muros entre o fashion e o político, entre o personagem e o íntimo. Gaga fez da moda uma extensão de sua luta por autenticidade, uma celebração da estranheza e um convite para que o mundo também se permita ser mais expressivo, ousado e, acima de tudo, verdadeiro. Ela não apenas marcou uma era, ela redesenhou as possibilidades do que significa ser um ícone.
Eai, SF Reader? O que você acha do impacto da Lady Gaga na moda e na sociedade?



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