Entre os escombros do luxo, nasce um novo olhar
- Eduarda Sodré
- 22 de abr.
- 2 min de leitura

Enquanto os bastidores da produção de luxo na Ásia são revelados sem filtros e o Ocidente reage com medidas protecionistas cada vez mais desesperadas, seguimos buscando aprovação de um sistema que já mostra sinais evidentes de colapso.
A moda global vive um ponto de inflexão, não por uma nova onda criativa, mas por uma pressão crescente entre disputas comerciais, dilemas éticos e rearranjos de poder que abalam as estruturas que sustentaram por décadas um império de aparências.
Os EUA aumentam tarifas, as grandes marcas trocam suas lideranças como se fosse um jogo, e o mercado de luxo começa a se questionar. A crise não é apenas financeira. É simbólica. É o reflexo de um modelo que tenta manter sua autoridade enquanto tudo ao redor treme.
Mas a maior revelação talvez não venha dos governos, e sim de vídeos emergindo diretamente de fábricas chinesas. Registros crus de uma realidade que desmonta o mito do luxo imaculado. As imagens falam por si: por trás do glamour, há cansaço, exploração e uma lógica produtiva que colapsa.
E nós, do lado de fora desse centro em decadência, ainda olhamos para ele esperando reconhecimento. Há algo de profundamente contraditório nisso. No exato instante em que os pilares centrais se mostram frágeis, talvez o verdadeiro gesto de ruptura seja parar de olhar para cima em busca de validação.
O Brasil é mais do que fornecedor de recurso e força de trabalho. É território fértil de inovação estética, inteligência artesanal e soluções enraizadas. Mas enquanto estivermos tentando nos enquadrar no modelo global, seremos sempre cópia. E isso já não sustenta mais ninguém.
O problema não é apenas de estética. É de estrutura. Por que ainda há marcas brasileiras tentando parecer estrangeiras? Por que seguimos priorizando uma imagem europeizada, como se isso ainda garantisse prestígio? Por que tanto esforço em parecer com o “lá fora”, quando o “aqui dentro” está cheio de potência?
Nesse momento em que o império das aparências começa a ruir, talvez a pergunta mais urgente não seja “como sermos aceitos?”, mas “por que ainda queremos ser?”. O futuro da moda está em quem sabe se afirmar sem tradução. Porque há força em falar a própria língua.
Eai, SF Reader? Consegue perceber esse novo olhar?



Comentários